Aula I

Não importava... Se todo o caminho até aqui acabou por tornar-se difícil. Ou se, por vezes eu pensei até em desistir. Esta era a minha matéria. Eu a dominava como ninguém e, talvez, fosse o único aluno a possuir certas habilidades... Não, esqueça esta última frase. Pareceu-me um tanto arrogante. Mas, de fato, eu sou...



Foi assustador, confesso. Não é todo dia que se encontram certas criaturas no mundo bruxo. Principalmente um leão adulto. Sua juba bem cuidada brilhava sempre que o felino passava por perto das janelas. Parecia tranquilo e permanecia sem atacar ninguém. Talvez algum aluno tivesse transfigurado a sua cadeira acidentalmente na aula de transfiguração. Logo a criatura virou desapareceu em um dos corredores da escola e eu continuei meu caminho em direção à sala de Transfiguração.

Depois de alguns corredores, salas erradas e informações dos monitores, eu consegui encontrar, finalmente, a sala. O lugar era fantástico. Nos fundos, uma estante onde pequenos animais eram guardados. Encostadas nas paredes prateadas, quadros negros giratórios, onde já se viam informações. Também havia uma escrivaninha e uma poltrona, onde eu presumi que deveria estar o professor de transfiguração. Porém, o mesmo não o fizera. Só então, próximo à escrivaninha, pude ver a figura já vista. A mesma que passeava pelos corredores da escola. O leão, que agora permanecia sentado e fitava os alunos que adentravam pela porta. Eu sentei-me em uma cadeira e passei a observá-lo. Que bobagem a minha! Era de se esperar que um professor de transfiguração dominasse a arte da animagia.

- Ele é um animago. - Sussurrei para mim mesmo. O professor, vendo que todos os alunos já estavam presentes, rugiu alto e voltou à sua forma humana.

- Olá alunos e alunas novos. É um prazer recebê-los em Hogwarts, estou muito feliz de dar aula de Transfiguração para vocês. Meu nome é Rick Thompson, animago que vira leão como viram. Para quem não sabe, são aqueles que têm capacidade de virar animal em qualquer momento e ao contrário de feitiços, continuo pensando como humano na outra forma. Não expulsarei quem fizer bagunça, desrespeitar alguém, fazer brincadeiras sem graças, conversar ou não ficar atento as aulas, porém descontarei pontos da casa, pois a Transfiguração quando feita de qualquer jeito ou errada pode fazer algo grave. E anotem o que eu falar também, pois cairá na prova e a matéria é essencial para quem deseja ser um Auror! E dedicação, concentração, destreza e controle são as coisas mais importantes aqui! Lembrando, aqui nada se cria, e sim transforma, ensinarei a mudar as moléculas com o feitiço, que mudará toda ou uma parte da estrutura. – O professor tomou uma taça de prata em suas mãos e bebeu o líquido presente nele. – Paremos com o discurso e vamos aos nomes! - O mesmo passou a perguntar os nomes dos alunos, até chegar a mim.

- Charles Caestro Morgenst, mas eu prefiro que me chame de Chuck. A transfiguração é uma matéria um tanto desconhecida por mim. - Eu mentia. - Mesmo nascendo em uma família de bruxos. Mas espero, com sua ajuda, aprender mais sobre esta fascinante matéria.

Eu sei. Você pode pensar que eu deveria revelar minha verdadeira situação. Mas nem mesmo você reconhece minha situação. O Ministério da Magia ainda insiste em controlar os animagos. E para um de nós, não-registrados, revelarmos nossa animagia acaba tornando-se um ato perigoso. O professor agora já conhecia a todos nós. Assim, continuou sua aula.

- Bom, farei aqui para vocês verem. - O professor pegou alguns materiais da sua escrivaninha. Os mesmos que se encontravam em minha mesa. O Sr. Thompson começou a executar simples feitiços. Sapore, Colore... Feitiços simples de transfiguração que eu estudara antes do início das aulas. - Agora sentarei e observarei vocês. Há mais feitiços do outro lado das lousas, podem girar quando quiserem. Não precisa fazer nenhum movimento especial, apenas apontem e falem o nome do feitiço. E não fiquem pensando se sou burro se pensarem que eles são simples, apenas estamos na primeira aula do primeiro ano. - O professor sacudiu suas vestes, livrando-se do pó de giz e postando-se em sua poltrona.

Eu fitei a lousa. Todos os feitiços do livro estavam agora listados na lousa. Retirei da minha mochila um frasco de tinta, pena e um pergaminho. Assim, passei a transcrevê-los para o mesmo. Quando acabei, eu retirei a minha varinha das vestes, segurei-a firme e preparei-me para os feitiços. "Vamos, Chuck. O que o livro de transfiguração dizia mesmo? Dedicação, Concentração, Destreza e Controle." Desta vez, a destreza seria inútil, já que movimentos não eram necessários nestes feitiços. Eu fitei bem a folha colorida. Logo, minha mente focou a cor verde. Matriz do brasão de Soserina.

- Colore Verde! - E a folha passou por um processo de mutação. Agora, uma única cor predominava. O verde.

Obtive sucesso em minha primeira transformação. Contudo, neste próximo feitiço a transformação seria mais complicada. Eu foquei o pedaço de carne, e comecei a imaginar o sabor de uma barra de chocolate. Por fim, apontei a varinha para o pedaço de carne e exclamei.

- Sapore Chocolate! - Aparentemente, nada ocorrera ao pedaço de carne. Tomei-o em minhas mãos e, colocando-o em minha boca, pude sentir um gosto atordoante. Eu, realmente, não compreendo como os especialistas em transfiguração deduziram que o uso indevido do feitiço pudesse ter o gosto de meleca. Contudo, presumi que aquele terrível gosto significasse que meu feitiço fora ineficaz. Logo, coloquei a carne sobre a mesa e tentei mais uma vez. Agora, eu tentaria pensar especificamente no gosto do chocolate, e não na barra. Apontei a varinha para o pedaço de carne e... - Sapore Chocolate! - Coloquei a carne em minha boca outra vez e senti o gosto doce e maravilhoso do chocolate. Lembrava-me um pouco o gosto do produto trouxa, Nutella.

Voltei a olhar o quadro. Agora eu precisava mudar o cheiro da carne. Passei então a imaginar o cheiro de uma abóbora. O mesmo que eu costumava sentir, sempre que levava um copo de suco de abóboras à boca. Apontei mais uma vez a varinha para a carne e pronunciei o feitiço.

- Odoreum Abóbora! - De onde eu estava, pude sentir o cheiro da carne transfigurando-se no característico aroma de abóbora. Logo, coloquei o pedaço de carne ao lado da folha e trouxe para mais perto a barra de ferro.

Logo, comecei a imaginar a barra de ferro a brilhar mais intensamente, quase podia sentí-la ofuscando meu olhar. Então, exclamei.

- Fulgeo Maximus! - De imediato, o metal começou a brilhar mais intensamente. Eu mal podia fitá-lo pois o mesmo refletia sobre o meu olho a luza que adentrava a sala de transfiguração pela janela. Então, tratei de finalizar meus feitiços. Imaginei o brilho da barra esvaindo-se do mesmo e, então, exclamei. - Fulgeo Minimus! - A barra de ferro foi, aos poucos, diminuindo seu brilho.

Olhei à minha volta. Alguns alunos ainda insistiam em tentar mudar as propriedades dos objetos, sem sucesso. Eu me levantei, guardando minha varinha e, finalmente, deixei a sala de Transfiguração. Nossa primeira aula fora animadora. E eu, agora, esperava por ótimos momentos dentro daquela sala.